quarta-feira, 3 de março de 2010

Terremoto - Chile x Haiti


Chile estava preparado para terremoto, Haiti não


O terremoto no Chile foi bem mais forte e intenso do que o que atingiu o Haiti mês passado, mas a quantidade de mortes foi bem superior na ilha caribenha.

As razões são diversas.

O Chile é mais rico e muito mais preparado, com leis rigorosas para construção de prédios, boa estrutura de atendimento de emergências e uma longa história de terremotos. Nenhum haitiano vivo havia passado por um terremoto até o dia 12 de janeiro desse ano, quando um deles arrasou os prédios mal construídos.

E o Chile até que deu sorte dessa vez.

O terremoto de sábado teve seu centro 34 quilômetros abaixo da superfície da Terra e em uma área relativamente desabitada, enquanto o terremoto do Haiti aconteceu mais perto da superfície (12 quilômetros) e bem perto de Porto Príncipe, fatores que aumentaram seu poder destrutivo.

"Terremotos não matam – não deixam danos – se não houver nada para ser atingido", disse Eric Calais, geofísico especializado em terremotos da Universidade de Purdue, Estados Unidos.

O serviço geológico dos Estados Unidos diz que oito cidades do Haiti – incluindo sua capital, que abriga 3 milhões de pessoas – sofreram tremores violentos ou extremos devido ao terremoto do mês passado, que matou cerca de 220 mil pessoas, de acordo com o governo do Haiti. O número de mortos no Chile ficou na casa das centenas.

Em contraste, nenhuma área urbana do Chile sofreu mais do que um abalo "severo", o terceiro nível mais grave. O ponto de origem do terremoto estava a 325 quilômetros da capital do Chile, Santiago.

Em termos de energia liberada no centro do terremoto, o tremor do Chile foi 501 vezes mais forte. Mas essa energia se dissipa muito rapidamente à medida que se afasta do epicentro. Além disso, o solo abaixo de Porto Príncipe é menos estável e "treme feito gelatina", afirma o geólogo Tim Dixon, da Universidade de Miami.

Sobreviventes do terremoto do Haiti descreveram cenas de pânico, em boa parte com razão, à prpporção que os prédios implodiram ao seu redor. Muitos haitianos se agarraram a pilares de cimento que em seguida se desfizeram em suas mãos. Os haitianos não tinham treinamento em como reagir, não sabiam de medidas simples, como abrigar-se sob mesas e portas e afastar-se das janelas.

Os chilenos, por outro lado, têm casas e escritórios construídos para lidar com terremotos, com estruturas que balançam suavemente conforme os abalos, em vez de tentar resistir a eles.

"Quando se olha para os prédios do Chile você percebe danos, mas nada comparado à completa destruição dos prédios haitianos", afirma Cameron Sinclair, diretor da organização Arquitetura para a Humanidade, órgão sem fins lucrativos que ajuda populações vítimas de desastres naturais. Sinclair afirma que tem colegas arquitetos no Chile que construíram milhares de casas simples, porém resistentes a terremotos.

Em compensação, no Haiti não há leis para construir prédios.Patrick Midy, um arquiteto de destaque no Haiti, afirma que ele sabia de apenas três prédios preparados para terremotos no país inteiro. A organização de Sinclair recebeu 400 pedidos de ajuda logo depois do terremoto do Haiti, mas ainda não recebeu nenhum pedido do Chile.

“Se levarmos em conta o critério per capita, o Chile tem mais sismólogos de destaque do que qualquer país do mundo”, afirma Brian Tucker, presidente da GeoHazards International, uma ONG baseada na Califórnia.

Os conselhos dessas pessoas são seguidos pelo governo do país mais próspero da América Latina, que tem medidas não só para construção de prédios como também para lidar com emergências. "O fato de que a presidente do Chile atualizava a população a cada minuto logo após o terremoto mostra o nível de qualidade dos procedimentos de emergências deles", afirma Sinclair.

A maior parte dos haitianos não sabia se o presidente do país, Rene Preval, estava vivo após os terremotos. A residência dele, assim como a maioria dos prédios do governo, havia tombado. No Haiti, as redes de telefonia celular, estações de TV e rádios saíram do ar após o abalo.

O coronel Hugo Rodrigues, comandante da Força Aérea chilena que atua no Haiti, esperava ansiosamente por notícias de seus familiares no sábado. Ele afirmou que sua família estava bem e afirmou com confiança que o Chile superaria rapidamente a catástrofe.

"Somos organizados e preparados para lidar com crises, especialmente desastres naturais", disse Rodriguez. "O Chile é um país em que acontecem muitos desastres naturais".

Calais, o geólogo de Purdue, nota que tremores são tão comuns no Chile quanto em outras regiões ao longo dos Andes. “É bem provável que cada um dos chilenos já tenha sentido um tremor em sua vida, já no Haiti o último aconteceu há 250 anos. Então, ninguém lembra”, afirma.

Nas ruas de Porto Príncipe, muitas pessoas não sabiam do terremoto no Chile. Mais de meio milhão de pessoas não têm casa, a maioria ainda está sem eletricidade e se preocupa apenas em ter o que comer.

Fanfan Bozot, um cantor de reggae de 32 anos que almoçava com um amigo, apenas balançou a cabeça quando refletiu sobre a dependência de ajuda externa que aflige o Haiti. “O Chile tem um governo responsável”, ele diz, gesticulando com desgosto. “Nosso governo é incompetente”.

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