quarta-feira, 9 de junho de 2010
Lúpus
O lúpus eritematoso sistêmico (LES ou lúpus) é uma doença autoimune do tecido conjuntivo que pode afetar qualquer parte do organismo. Assim como ocorre em outras doenças autoimunes, o sistema imune ataca as próprias células e tecidos do corpo, resultando em inflamação e dano do tecido.
O LES lesa mais frequentemente o coração, articulações, pele, pulmões, vasos sanguíneos, fígado, rins e sistema nervoso. A evolução da doença é imprevisível, com crises e remissões. A doença ocorre nove vezes mais frequentemente em mulheres do que em homens, especialmente entre as idades de 15 e 50 anos, sendo mais comum nas pessoas que não têm ascendência européia.
O LES é tratável sintomaticamente principalmente com corticosteróides e imunossupressores. Atualmente ainda não existe cura. O LES pode ter complicações fatais, no entanto, atualmente as fatalidades têm-se tornado cada vez mais raras. A taxa de sobrevivência em cinco anos para pessoas com LES nos Estados Unidos, Canadá e Europa é de aproximadamente 95%, 90% em 10 anos e 78% em 20 anos.
Histórico
Há várias versões sobre a origem do nome da doença. (lupus significa lobo em latim, e erito (ερυθρός) quer dizer vermelho em grego) Uma versão é a de que casos de porfiria (doença com sintomas semelhantes aos de lúpus) geraram folclores sobre vampiros e lobisomens, devido à fotossensibilidade, cicatrizes, crescimento de pêlos e manchas nos dentes. Outra teoria refere o termo loup, um estilo francês de máscara que as mulheres usavam para esconder as erupções cutâneas em seus rostos.
Em 1895, o médico canadense Sir William Osler caracterizou melhor o envolvimento dos vários tecidos do corpo e adicionou a palavra "sistêmico" ao nome.
Patofisiologia
Há períodos de inatividade que podem durar semanas, meses ou anos. Alguns pacientes podem não desenvolver complicações graves. Não é transmissível e suas manifestações variam muito de um paciente para outro. Há casos simples (que exigem intervenções médicas mínimas) e graves (com danos a órgãos vitais, como: pulmão, coração, rim e cérebro).
Causas
Acredita-se que a patogenia envolva algum defeito básico na manutenção da auto-tolerância com ativação das células B (linfócitos B).Esse processo pode ocorrer secundariamente a alguma combinação de defeitos hereditários na regulação das células T auxiliares (Th-T helper). Acredita-se também que o defeito primário ocorra nas células T CD4 que impulsionam as células B auto-antígeno-específicas a produzir anticorpos.
Genética
* Doença Clínica: Indivíduos cujos familiares já foram diagnosticados têm mais chance de apresentar o LES ou outra doença auto-imune. A taxa de concordância em gêmeos monozigóticos varia de 12% a 15%.
* Alterações Imunológicas: Os familiares têm uma maior frequência de FAN positivo, hipocomplementemia, hipergamaglobulinemia, teste sorológico para sífilis falso-positivo e anticorpos antilinfócito.
* HLA: O lúpus está associado com HLA-DR2 e HLA-DR3.
* As mutações estão alojadas no braço curto do cromossomo 6.
Tipos
Existem 3 tipos de Lúpus: o lúpus discóide, o lúpus sistêmico e o lúpus induzido por drogas.
Lúpus discóide
É sempre limitado à pele. É identificado por inflamações cutâneas que aparecem na face, nuca e couro cabeludo. Aproximadamente 10% das pessoas Lúpus Discóide pode evoluir para o Lúpus Sistêmico, o qual pode afetar quase todos os órgãos ou sistemas do corpo.
Lúpus sistêmico
Costuma ser mais grave que o Lúpus Discóide e pode afetar quase todos os órgãos e sistemas. Em algumas pessoas predominam lesões apenas na pele e nas articulações, em outras pode haver acometimento dos rins, coração, pulmões ou sangue.
Lúpus induzido por drogas
O lúpus eritematoso induzido por drogas ocorre como conseqüência do uso de certas drogas ou medicamentos. Os sintomas são muito parecidos com o lúpus sistêmico. Os próprios medicamentos para lúpus também podem levar a um estado de lúpus induzido. Por isso é preciso ter certeza absoluta do diagnóstico antes de iniciar tratamento com corticosteróides, antimaláricos como reuquinol e antiinflamatórios em geral.
Sinais e sintomas
A fadiga costuma ser o primeiro sinal. A maioria das pessoas apresenta febre contínua ou intermitente, perda de peso e mal-estar. Independente da forma clínica de manifestação, a grande maioria dos doentes tem períodos críticos intercalados por períodos de relativa melhora ou mesmo de inatividade.
Diagnóstico
Testes laboratoriais
Autoanticorpos
É talvez o achado laboratorial mais consistente da doença. Alguns autoanticorpos como o anti-Sm e o anti-DNA de dupla hélice (dsDNA) têm valor diagnóstico, pois são altamente específicos para o LES. Os demais anticorpos não são específicos, mas a sua presença auxilia o diagnóstico.
Autoanticorpos no lúpus eritematoso sistêmico Autoanticorpo Incidência (%) Especificidade
ANTI-dsDNA 80-90 ALTA
ANTI-ssDNA 80-90 -
ANTI-Sm 30 ALTA
ANTI-RNP 30-40 -
ANTI-Ro/SS-A 30-40 -
ANTI-La/SS-B 25 -
ANTI-P 10-15 ALTA
Complemento
As flutuações nos níveis de C3, C4 e CH50 podem ser úteis no seguimento da atividade de doença.
Testes de VHS e mucoproteínas são inespecíficos, mas utilizados para avaliar a atividade inflamatória. No hemograma, pode ser encontrada anemia normocítica, leucopenia (taxa de leucócitos abaixo de 4.000/mm³), linfopenia (número de linfócitos menor que 20% do total de leucócitos) e plaquetopenia (taxa de plaquetas abaixo de 100.000/mm³)
Eletroforese de proteínas
Importante para avaliar elevação de gamaglobulina, que na maioria das vezes está associada à atividade de doença. Também útil para avaliar nivel de albumina e atividade inflamatória.
Avaliação dos diferentes órgãos
A avaliação renal (Urina I, Uréia, Creatinina e Clearance) deve ser feita independente da presença de manifestações clínicas. Os outros exames devem ser realizados de acordo com o acometimento de cada órgão especificamente.
Critérios diagnósticos
O diagnóstico de LES é estabelecido quando 4 ou mais critérios dos abaixo relacionados estiverem presentes:
* Eritema malar (vermelhidão característica no nariz e face), geralmente em forma de "asa de borboleta"
* Lesões discóides cutâneas (rash discóide)
* Fotossensibilidade
* Úlceras orais e/ou nasofaríngeas, observadas pelo médico
* Artrite não-erosiva de duas ou mais articulações periféricas, com dor, edema ou efusão
* Alterações hematológicas (anemia hemolítica ou leucopenia, linfocitopenia ou plaquetopenia) na ausência de uma droga que possa produzir achados semelhantes
* Anormalidades imunológicas (anticorpo antiDNA de dupla hélice, antiSm, antifosfolipídio e/ou teste sorológico falso-positivo para sífilis)
* Fator antinuclear (FAN) positivo
* Serosite (pleurite ou pericardite)
* Alterações neurológicas: convulsões ou psicose sem outra causa aparente
* Anormalidades em exames de função renal: proteinúria (eliminação de proteínas através da urina) maior do que 0,5 g por dia ou presença de cilindros celulares no exame microscópico de urina
Esse método diagnóstico tem uma especificidade de 95% e uma sensibilidade de 75%, de forma que, quando, no mínimo, quatro critérios forem preenchidos, em média 95 de cada 100 pacientes apresentará, de fato, lúpus eritematoso sistêmico. Entretanto, somente 75 de cada 100 pacientes com lúpus eritematoso sistêmico apresentaram positividade para 4 ou mais desses 11 critérios.
Tratamento
Prevenir infecções. Os sintomas gerais na maioria das vezes respondem ao tratamento das outras manifestações clínicas. A febre isolada pode ser tratada com aspirina ou antiinflamatórios não-hormonais. Corticóides e imunossupressores (especialmente a ciclofosfamida) são indicados nos casos mais graves.
Como não existe um diagnóstico muito preciso para as doenças chamadas auto-imunes, deve-se ter cuidado ao administrar medicamentos, uma vez que seus efeitos colaterais podem ser muito agressivos ao organismo.
Gestantes portadoras de lúpus necessitam de um acompanhamento médico rigoroso ao longo da gravidez, visto que a doença pode atingir também o feto.
Epidemiologia
* Sexo: Há um nítido predomínio no sexo feminino (8 mulheres em cada 10 portadores), aparecendo geralmente durante os anos férteis (da menarca à menopausa)
* Faixa etária: Os primeiros sintomas ocorrem geralmente entre a segunda e quarta década de vida.
* Localidade: É mais comum nos EUA, menos incidente na Inglaterra
* Distribuição étnica: É mais frequente em negros, com incidência de 11,7/100.000 enquanto a ocorrência em brancos é de 2,7/100.000.
* Geral: 27,5/milhão para mulheres brancas e 75,4/milhão para mulheres negras, nos EUA.
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